É gente humilde que me encanta os olhos
Da humildade dos que casam no escuro da noite no sertão e ainda posam na foto
Dos que balançam a vida sentados na calçada de casa
Os que velam a morte na sala de estar, rezando, servindo café e pelejando a dor da perda
Os que fogem e viajam sem pressa olhando a novela na televisão
Ou mesmo os que não viajam, mas vivem a realidade sem pressa.
Quem ensina aos filhos o valor do lápis: escreva leve que a ponta não quebra.
O plástico que recobre o caderno, a mochila com remendo, o arrame na sandália
Esses que não roubam, mas confessam seus erros.
Os que emolduram a honestidade na testa
Desses que desviam da pobreza com dignidade
Os que abrandam a fome com caldo fino do feijão preto
Os humildes que guardam as sobras
E quando não sobra, engolem o orgulho para matar a fome.