quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
domingo, 20 de outubro de 2013
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Cabelos, vento e risos
Quando o sinal abriu
Clara se fixou perto da faixa de pedestre
Os carros aceleraram
O vento também ficou veloz
Clara viu seus cabelos começarem a ser levados para todos os lados embalados pelo vento
Carros e mais carros aceleravam
O vento seguia alegrando os cabelos da menina
As suas mãos tentavam segurar os cabelos em fuga,
Mas faltavam mãos para segurar tantos fios
A força do vento criou um jeito engraçado
O sorriso veio pela brincadeira inesperada
Clara esperou o sinal fechar
Esperou tanto que agora seu corpo também já dançava no compasso do vento
Os carros não a viam ali do lado
O vento a queria
As mãos deixaram-se livres
Os cabelos fugiram de vez pra o alto
O sinal fechou
Tudo parou
Clara seguiu
Tinha alguns cabelos embaraçados e a mãe puxando sua mão
Eu também segui
Feliz por ter brincado também
Eu acelerei o vento por instantes para Clara continuar a dançar.
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
Olhos humildes
É gente humilde que me encanta os olhos
Da humildade dos que casam no escuro da noite no sertão e ainda posam na foto
Dos que balançam a vida sentados na calçada de casa
Os que velam a morte na sala de estar, rezando, servindo café e pelejando a dor da perda
Os que fogem e viajam sem pressa olhando a novela na televisão
Ou mesmo os que não viajam, mas vivem a realidade sem pressa.
Quem ensina aos filhos o valor do lápis: escreva leve que a ponta não quebra.
O plástico que recobre o caderno, a mochila com remendo, o arrame na sandália
Esses que não roubam, mas confessam seus erros.
Os que emolduram a honestidade na testa
Desses que desviam da pobreza com dignidade
Os que abrandam a fome com caldo fino do feijão preto
Os humildes que guardam as sobras
E quando não sobra, engolem o orgulho para matar a fome.
sábado, 25 de maio de 2013
Poesia de Malandro
Eu que não peço nada em troca
Me submeto a esse amar desencontrado
Típico e sorrateiro amor de esquina
Me visto de malandro e sigo
Apertando na mão dentro do bolso uma sobra de desapego
Vou incorporando a boemia e a carência para cortejar corações, vazios
Na lábia digo que presto favores e afetos
Sempre tem alguém desavisado querendo festejar
Basta debruçar sobre os lábios um fingir de beijos
Gasto toda madrugada por uma ilusão besta
Continuo precisando de o amor desencontrar
Pra perceber que não há pureza nisso
Nem tão pouco defeito
Isso nem é amar
O malandro não ama
Ele tira proveito
Eu observo, aproveito e escrevo.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
Liberdade ao Poeta
Meu amor, talvez você não entenda essa coisa de fazer poema não é pra te conquistar
Talvez você confunda minha arte com ilusão de amar
Não vendo amores, só me perco no pensar
Só risco minhas palavras firmemente
Você é que as lê como se eu as tivesse escrito, trêmulo e pálido de emoção
Não escrevo aos prantos
A culpa é tua por confundires minha letra com seus olhos de melancolia
Eu não compro versos de qualquer paixão
Poeta não é tolo, por vezes, apenas perde a razão
Não confundas minha poesia
Minha simples poesia
Cala tuas lágrimas ao lê-la
E entenda, de uma vez por todas, que a minha poesia não te conquista,
Ela me liberta.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Reflexão
Nos momentos de tragédia sempre penso que tudo poderia ser igual aos filmes que já vi.
Penso nos poderes de um vidente, de premonição, na possibilidade de ver acontecimentos previamente, avisar a cada um dos 232 jovens que morreram e aos outros tantos hospitalizados, que iria ocorrer um incêndio naquela boate e, assim evitar que tanta dor e perplexidade fossem geradas.
Penso na habilidade e força do super-homem. Com um sopro conseguir eliminar as chamas e a fumaça mortal que pairava no local ou com a ponta do dedo abrir espaço entre as paredes e acabar com o terror da morte, permitir que tantas famílias vissem seus filhos e parentes vivos pela manhã.
Penso na Medicina super avançada das eras futuras, onde os pulmões comprometidos pelos vapores tóxicos, a pele dos membros queimados, as fraturas causadas pelo pisotear em fuga pudessem ser facilmente revertidos pela luz azul de um aparelho qualquer, impedindo que o número de vitimas continue a aumentar.
De fato, a realidade dessa história assemelha-se a um filme. Tudo possui dimensão cinematográfica: a quantidade de vítimas, a cobertura na televisão, a emoção das famílias, as circunstância do incêndio, tudo no primeiro instante é inacreditável e chocante.
Porém, já que não somos videntes, super-homens ou e nos resta apenas os recursos da Medicina que cabe ao nosso tempo, usemos simplesmente de nossa espiritualidade pra tentar compreender situações tristes e comoventes como essa. Refugiamos nossa comoção e inexplicabilidade por tantas perdas na transcendência da vida.
Vida de Zé
Eu vi a tristeza nos olhos de um Zé,
Um Zé indolente que antes tinha mais fé.
Hoje sobrevive clamando vagas preces
Como a vida de qualquer Zé
Apático!
Que aprendeu a viver com um tanto
Um Zé que não sabe o que é sorte,
Só conhece mazelas
Pagando pela incoerência do mundo.
Eita Zé!
Se você estudasse,
Se você lesse,
Se você protestasse,
Se você gritasse
Ao mundo a dor de sua tristeza...
Viveríamos menos relutantes.
Esse Zé que nunca foi pra Minas
Aliás, que nunca se quer sonhou em sair de sua mente pequena
Igual ao Zé do Drummond
Cobre os olhos e se pergunta:
Pra onde?