O povo acorda cedo
Engole café preto com pedaço de pão seco sem recheio
Pedem a benção aos santos que posam nos quadros
Uns conversam sobre o tempo: Cadê as chuvas de janeiro?
Varrem o terreiro
Outros vão a cidade
Chapéu, saias bem passadas, camisa cambraia, perfume bem guardado, daqueles só usados nos batizados e nos dias de aniversário
Caminhonete, carroça, bicicleta e jumento bem celado, no interior é melhor que metrô e ônibus lotado
O trânsito na cidade segue sem congestionar, o bode e cahorro nem olham para os lados na hora de atravessar
A prefeitura abre as portas
O som da igreja começa a anunciar, de falecimento até nome do povo que vai casar
O povo passa na budega, se pesa na farmácia
Na volta se pesa na farmácia e passa na budega
Vida corrida essa

Se chegar cedo dá tempo ir no posto para se consultar,
Aqui menino tem doença que nem o melhor doutor consegue tratar
Farnizim, quebranto, dor nos quartos
Agora vento caído tem que mandar rezar
Notícia boa aqui não sai na globo, vem da boca do povo
As últimas traições, quem foi preso e quem foi solto: tu num soube?
A língua que corta e a fofoca repassada é mais rápido que pesquisa no google
No interior
Táxi é carro fretado
Alternativo é carro de linha
Sobrado é primeiro-andar
Mansão é casa com portão na frente
Lazer é sentar na calçada
lotérica é banco
Esquina é sala de bate-papo
Ah! No interior tudo é na santa paz
Quase nada acontece
Quase todo dia é igual
A não ser o vento que às vezes muda de direção.